Good Bye, Lenin! é um filme que faz pensar.
Apresenta-nos a República Democrática Alemã antes da queda do Muro através dos olhos de dois jovens que, primeiro, vêm o seu pai fugir para o mundo capitalista e, depois, vêm a sua mãe, acérrima defensora da União Soviética, a cair num coma, pouco antes da queda do muro. Com a mãe em coma, vêm o muro cair e uma sociedade outrora socialista a sucumbir sob o poder do capitalismo e do consumismo. (A mãe virá a acordar, oito meses mais tarde, já numa Alemanha totalmente capitalista, e eles farão tudo para esconder da mãe a queda do muro o desaparecimento de tudo aquilo em que ela acreditava.)
Esta transição entre um modelo e outro, observada através dos olhos de dois jovens, simples e imparciais, que queriam apenas uma nação mais livre, dá que pensar.
Se é certo que na RDA e restantes nações dentro da União Soviética o povo não tinha liberdade de se manifestar, de ter ideias diferentes das do Estado Socialista, também é certo que não havia pessoas a passarem fome, que todos tinham um sítio onde viver, que não havia discrepâncias tão gritantes na distribuição das riquezas como as que há hoje em dia.
Quando a União Soviética caiu e o capitalismo conquistou toda a Europa de Leste, a economia desses países, que outrora garantia uma vida digna a todos, em que as pessoas não passavam fome nem estavam sujeitas a ficar sem tecto sob o qual dormir, tornou-se uma selva darwiniana, em que sobrevivem apenas os mais fortes. No mundo capitalista em que vivemos hoje, nada é certo - num dia, podemos ter uma vida estável e, no outro, ao ficar sem trabalho, perder a casa, ficar sem ter sequer o que comer. Existe a exploração do homem pelo homem, existe uma péssima distribuição da riqueza, estando 20% da população do mundo na posse de 80% da riqueza mundial. Um sem número de pessoas morre todas as horas, vítima da fome e de doenças perfeitamente evitáveis, enquanto que, do outro lado do mundo, pessoas recebem dezenas, centenas e milhares de milhares de euros por mês. Por todo o mundo existem milhões de pessoas sem casa, a viver nas ruas e em campos de refugiados, enquanto outros milhões de pessoas são donas de diversas casas, e estas estão vazias a maior parte do ano.
Nas sociedades comunistas da União Soviética as pessoas não passavam fome e sabiam que teriam sempre um sítio onde dormir, mas isso não desculpabiliza o facto de as liberdades individuais não terem sido respeitadas no mundo comunista. Nunca disse isso, aliás, acho absolutamente errado que se atente contra o direito de cada indivíduo de pensar livremente. Os fins nunca, mas
nunca, justificam os meios. Acho, no entanto, que devíamos pensar se valeu a pena ganharmos a liberdade de dizermos aquilo que pensamos aos sete ventos, se com isso deixámos de poder ter a certeza se amanhã teremos o que comer, onde dormir, onde viver condignamente.
Em suma, poderemos dizer aquilo que quisermos, mas não saberemos se teremos um amanhã.