Saturday, December 26, 2009

O Natal

Não é que eu tenha alguma coisa contra, não, até porque cada um faz dos dias aquilo que muito bem lhe apetecer, mas eu não festejo o Natal. Para mim é apenas mais um dia, tal e qual os outros – sem árvore, sem presépio, sem nada. Recebi um casaco, um livro e uns filmes, mas isso também vou recebendo ao longo do ano.
Porquê festejar Jesus Cristo no dia do seu nascimento (que já nem se tem a certeza que seja mesmo dia 25 de Dezembro, mas isso é outra história)? Porque não festejá-lo todos os dias, enchendo a nossa vida de tolerância, de fraternidade e partilha com o próximo, de paz. Qual o sentido de nos acharmos muito católicos por festejarmos o Natal e a Páscoa, quando o resto do ano deixamos que as nossas vidas sejam regidas pelo ódio, pela ganância e pela guerra.
Eu cá prefiro festejar a nossa existência, festejar a natureza. E toma um sentido especial para mim festejá-la no solstício de inverno, festejando também o início de um novo ciclo, uma data celebrada desde tempos imemoriais pelos mais diversos povos. Sinto que é algo menos artificial do que o Natal - mais primordial, mais mágico. Este ano passei-o com os amigos e com a família. Foi um dia especialmente bem passado.

E quanto ao Natal ser um pretexto para juntar a família, talvez fosse melhor deixarmos todos de passar a vida a correr, e começar a partilhar cada momento da nossa existência com as pessoas de quem realmente gostamos – a nossa família e os nossos amigos.

Vivamos a vida, em vez de ficarmos imóveis a vê-la passar.
Carpe Diem!

Sunday, December 13, 2009

Vigília por Aminetu Haidar

Em greve de fome há 24 dias num parque de estacionamento do aeroporto de Lanzarote, Aminetu Haidar continua a morrer aos poucos. O governo espanhol não se limita ao silêncio e comporta-se como autêntico delegado diligente da ditadura marroquina. Do resto da Europa, governo português incluído (o partido que o sustenta nem a favor de um voto de solidariedade conseguiu estar), o silêncio cobarde. O Sara luta pelo mesmo que Timor lutou. A história é aliás quase igual. Mas os negócios falam mais alto. Aminetu Haidar, prémio Sakarov entre tantos outros, pode morrer a qualquer momento. Em solo europeu. Perante o silêncio cobarde de todos. Apenas porque não deixam regressar ao seu país, à sua casa, aos seus filhos. Apenas porque os mesmos que a elogiam e a premeiam são incapazes de aprender alguma coisa com o seu exemplo: o da dignidade e da coragem.
Quando Marrocos fez saber que ela só poderá regressar se pedir desculpas ao rei Mohammed VI, o seu filho mais novo, de 13 anos, disse: “A minha mãe nunca vai voltar a casa porque nunca vai pedir perdão ao rei.” Não por frieza, mas pela coragem de uma combatente, Aminetu mediu todas as palavras: “podem viver sem mãe, mas não sem dignidade”. Por mim, ao ver esta mulher firme e de paz morrer na Europa que se diz da liberdade sinto uma vergonha sem fim. E um desprezo enorme pelos cobardes que nos governam. Tivessem os nossos líderes um pingo do que tem Aminetu e estaríamos muito melhor servidos.


recebido por e-mail
(autor desconhecido)


Vai ter lugar amanhã, dia 14 de Dezembro das 18h30 às 20h30, uma Vigília de Solidariedade com Aminetu Haidar, na Praça da República, em Coimbra. Marcarei presença. Por um mundo mais justo. Por um mundo de efectiva liberdade.


[Página da Vigília no Facebook.]

Thursday, November 26, 2009

Literaturas Imaginárias

Foi acabado de divulgar o programa oficial do próximo sábado (dia 28) das Conversas Imaginárias, este virado para a literatura e BD.

Aqui fica ele:


28 de Novembro
(auditório da BMOR)

(no átrio, durante o evento) Feira do Livro Fantástico; com o apoio Dr. Kartoon.

15:00-16:00 –Auto-edição em Portugal: oportunidades e problemas.
Com Pedro Ventura (moderação), Paulo Fonseca, Rafael Loureiro.

16:00-16:30 – Conselhos de leituras fantásticas.
Com João Barreiros, Nuno Fonseca, Cristina Alves.

16:30-17:00 – Intervalo.

17:00-18:00 – Novidades e Projectos de Banda-Desenhada.
Com João Lameiras (moderação), Ricardo Venâncio, Rui Ramos, David Soares, Filipe Melo.

18:00-19:00 – Novas Aventuras do Fantástico Português.
Com Rogério Ribeiro (moderação), Telmo Marçal, Fábio Ventura, Bruno Martins, Ana Vicente Ferreira.

20:00 – Tertúlia Noite Fantástica.
(Jantar, no restaurante Chili's - inscrições no tertulianoitefantastica@gmail.com).


Espero ver-vos por lá! Um abraço!

Extrapolação Nortenha

Nasceu, há pouco tempo, a Associação Extrapolar, com casa aqui.

É uma associação de cariz cultural que pretende dinamizar o espaço cultural do Grande Porto. Dêem uma olhadela ao seu manifesto. ;)

Estes projectos nunca são a mais, desde que sejam para andar para a frente. E este é.
Eu terei todo o gosto em embarcar com o Carlos Vinagre e todos os Extrapolantes neste projecto. E quem também o quiser fazer será muito bem-vindo.

Sunday, November 15, 2009

Musicalbi

Fui ontem à apresentação do álbum "Mastiço", dos Musicalbi, na Fnac Coimbra.

Cheguei mesmo a tempo, a meio da primeira música. Pela descrição no site da fnac, esperava algo na senda de Dazkarieh, mas não foi o que encontrei. As dúvidas que se apoderaram de mim desvaneceram-se ao fim de alguns minutos, e rapidamente comecei a vibrar ao som da música.
Efectivamente, não é nada do género de Dazkarieh que se encontra num concerto dos Musicalbi - ambos partem de uma pesquisa séria e profunda no campo da música tradicional mas, enquanto os Dazkarieh refazem as músicas tradicionais num estilo mais pesado, roqueiro, a sonoridade dos Musicalbi é mais suave, talvez mais próxima dos originais.

Existem desde 1983 e já lançaram 4 discos. Actualmente, a formação é composta por Carlos Salvado (Voz, Bandolim, Guitarra, Cavaquinho, Bouzuki, Flautas), Filipa Melo (Voz), Horácio Pio (Baixo, Acordeão, coros), Maria Côrte (Violino, Harpa Celta, Gaita de Foles), António Pedro (Piano, percussões, coros) e António Lourinho (Bateria). Esta miríade de instrumentos possibilita uma enorme variedade de sonoridades de música para música, todas elas absolutamente agradáveis.

Os desejos do melhor sucesso para eles, merecem!


Musicalbi.pt
Musicalbi on MySpace

Tuesday, November 3, 2009

Novembro, Escrita e Imaginação

Novembro tem-se afirmado cada vez mais como o mês da escrita por excelência, através do National Novel Writing Month (NaNoWriMo). Eu vou participar, não com o objectivo de escrever as 50 000 palavras até dia trinta, mas com o objectivo de iniciar e terminar o projecto que tenho andado a magicar para participar neste desafio. Vai ser um mês (quase) exclusivamente dedicado a este projecto, por isso vou estar (mais) ausente do blog.


De qualquer forma, na senda dos últimos posts sobre o Fantástico, gostaria de fazer referência a duas ou três coisas.

Antes de mais, às Conversas Imaginárias, que já têm cartaz :)
Vai decorrer nos sábados 21 e 28 de Novembro na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro e, mesmo não tendo o programa oficial ainda sido divulgado, há já alguns nomes confirmados - Pedro Ventura, Telmo Marçal, João Barreiros e David Soares, entre outros, na parte da literatura e BD, e António de Macedo e Rui Ramos, entre outros, na parte da concept art e cinema.
"Como prelúdio das Conversas Imaginárias", como acabado de anunciar no blog oficial, vai estar patente na Biblioteca uma exposição intitulada "Há Conversas com o IMAGINarte", de 9 a 28 deste mês.

Relativamente ao debate "Com Todas as Letras", que contou com o Pedro Reisinho (da Gailivro), o Luis Corte-Real (da Saída de Emergência) e o Pedro Marques (da Livros de Areia), bem como com o David Soares e o João Seixas, acho que vale a pena ler o texto publicado no blog da Livros de Areia.


Falando de livros, vai sair no Brasil a antologia Imaginários, de dois volumes, com participação não só de autores brasileiros mas também de nossos conterrâneos - Luís Filipe Silva, João Barreiros e Jorge Candeias. Para adquirir, com certeza.

Já deste lado do atlântico, foi lançada muito recentemente a antologia Talentos Fantásticos, pela edita-me. Envolta em muita polémica desde que a editora anunciou estar aberta a submissões para publicação de uma antologia, e ainda que não conheça os organizadores pelo que não posso afirmar nada com toda a certeza, tenho ficado cada vez mais convencido de que estes não agiram de boa-fé.
Vejamos, as participações (na categoria conto) tinham um limite máximo de 6 páginas. Porquê? Apostar na quantidade, afirmou a edita-me. Pergunto-me se será apenas para dar oportunidade a novos autores ou se será para terem um número de potenciais compradores maior. Não tenho uma resposta concreta, até porque não estou dentro da cabeça de quem organizou a antologia, mas inclinar-me-ia para a segunda hipótese. Mas passemos à frente.
Os autores dos contos, poemas e ilustrações não recebem direitos de autor nenhuns (o que é compreensível, pois daria uma quantia irrisória a cada um dos quase 100 participantes). Não recebem também nem sequer um exemplar cada um. Pronto, vamos esquecer isto, pois 100 exemplares era muita coisa. Mas vá, um desconto generoso aos autores, poetas e artistas que participam na antologia. 40%, 50%? Não? Não, uns irrisórios 10% de desconto aplicado nos 20€ que custa o livro de 350 páginas.
Sinceramente, cheira-me a um método sujo de fazer dinheiro. A maior parte dos autores estão a ser publicados pela primeira vez, pelo que vão querer comprar um exemplar, com certeza. Eles e, talvez, uns quantos familiares e amigos. Consideremos 80 como o número de participantes, e suponhamos que cada um, bem como um familiar seu, compra um exemplar. São 160 exemplares vendidos à partida - 2880€. Não estou dentro do mercado edição, mas parece-me que é um valor que cobrirá os custos de impressão, que, posto tudo isto, são todos os custos que a editora teve. O resto enche os bolsos de alguém.

O mesmo me parece que acontece com a editora Andross e as suas antologias, que referi no final deste post. Os autores, ao participarem na antologia, comprometem-se em vender 20 exemplares desta. Sendo os limites de palavras muitíssimo reduzidos, temos um mínimo de 40 participantes para cada antologia, o que significa 800 exemplares vendidos à partida.
Sim, o autor tem várias vantagens - tem logo um número de leitores potenciais muito elevado e, para além disso, ao vender os seus 2o livros (que pode adquirir com um desconto elevado - quase 50%), pode ainda ganhar dinheiro.

A mim, esta forma de publicação, que se está a tornar cada vez mais comum, parece-me muito pouco ética, por muito apetecível que possa parecer para um autor em início de carreira.


PS: O site da Saída de Emergência mudou de visual. Vale a pena dar uma espreitadela ;-)

Wednesday, October 28, 2009

Serenata da Latada 2009

Não foi excelente, não, mas foi o suficiente para me fazer querer ver a do próximo ano (que espero que decorra com menos percalços).

Começou com um ruidoso problema de som que ameaçou arruinar a Serenata. Por momentos, ouviram-se uns lastimáveis apupos. Mas os estudantes acreditaram e ficaram, e finalmente voltou-se a ouvir o fado, fazendo-se jus ao É Preciso Acreditar.

Outro problema é o barulho que os estudantes fazem. Não digo que seja culpa deles, a maior parte das vezes inclino-me mais para culpar o álcool, mas há pessoas que vão para lá para ouvir a Serenata, e não as conversas dos outros.

Para o ano, lá estarei. Espero eu.
Neste ano valeu-se-me a companhia.

Monday, October 26, 2009

Gripe A, porreiro pá!

Depois de ter ouvido boatos de que da vacina contra a Gripe suína podem advir efeitos secundários que poderão levar mesmo à morte, a recusa de um grande número de médicos e governantes a tomá-las apenas traz apenas veio reforçar a ideia que já desde há algum tempo se ia formando na minha cabeça.

É caso para dizer, não se morre da doença, morre-se da cura!
Eu cá prefiro morrer da doença, o que, sejamos coerentes, seria extremamente improvável, para um jovem da minha idade e não tão frágil assim.


[Já agora, os parabéns ao meu conterrâneo Boaventura de Sousa Santos, condecorado pelo Governo Brasileiro com a Gran-Cruz da Ordem do Mérito Cultural de 2009.

Por último, e por coincidência, uma ligação para um texto escrito, precisamente, por Boaventura de Sousa Santos - O Hipnotizador.]

Sunday, October 18, 2009

Ainda o Rebuliço

Parece que a agitação que se tem verificado nas águas do Fantástico não é tão passageira como se poderia à primeira vista temer.

Este último semestre de 2009 tem já uma agenda fantástica muito preenchida, com O Fantástico em debate já no próximo dia 27 de Outubro, no auditório Maestro Frederico de Freitas em Lisboa.

Mas ainda antes disso, vai-se realizar a primeira de uma série de Tertúlias organizadas pela Simetria - Associação Portuguesa de Ficção Científica e Fantástico, no IST-Taguspark, na sala 0.32. Realiza-se já nesta segunda-feira às 19h00 e tem como título "Os Direitos das Inteligências Artificiais". Para além desta, realizar-se-ão ainda este ano outras duas, no mesmo sítio e à mesma hora, nos dias 16 de Novembro e 14 de Dezembro.
Ainda fruto do acordo celebrado entre a Simetria e o Instituto Superior Técnico, vai-se realizar uma feira de livros usados de FC&F, no campus do IST-Taguspark de 14 a 16 de Dezembro de 2009. [Segundo o blog oficial da Simetria, "A Feira do Livro ainda carece de uma autorização final para a sua realização", que esperam obter brevemente.]

E por esta altura deveria estar para acontecer o já clássico Fórum Fantástico, mas foi anunciado o interregno deste evento que, por razões já explicadas aqui, voltará apenas em 2010. Mas o Rogério Ribeiro, um dos nomes a quem mais o Fantástico luso como o conhecemos hoje deve, já meteu mãos às obras e garante-nos que não nos vai deixar desocupados - nos sábados 21 e 28 o Conversas Imaginárias, um conjunto de apresentações e debates, tomará lugar na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro. O Rogério promete-nos um evento inteiramente virado para participantes nacionais, com um dos sábados dedicado ao cinema e à concept art, e o outro à literatura e banda desenhada.


Mas como sem produção não há mercado, passemos então a novos desafios e concursos, que também surgiram nesta última semana.

Pela Saída de Emergência, foram finalmente abertas as submissões ao Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead para Doenças Excêntricas e Desacreditadas. Há muito que este tinha sido anunciado no site, mas apenas agora foi divulgado o regulamento do desafio. A editora, aproveitando a tradução para português da obra The Thackery T. Lambshead Pocket Guide to Eccentric & Discredited Diseases, onde podemos encontrar contribuições de autores como Neil Gaiman e Michael Moorcock, China Miéville e Alan Moore, lançou "o apelo a todos os médicos literatos de língua portuguesa para que submetam os casos mais excêntricos com que tenham tido que lidar na sua prática do dia-a-dia, por muito desacreditados que a medicina tradicional os tenha decretado", que figurarão no Almanaque junto de tão prestigiados autores. As submissões devem pautar-se, como é óbvio, "para além da maior competência clínica", por uma "irrepreensível utilização da língua portuguesa ao serviço de uma imaginação transbordante, original e satírica".

Não menos importante, ainda que acessível apenas a alunos, docentes e funcionários não docentes do Instituto Superior Técnico, é o Concurso Mini-Contos IST lançado pela Simetria, aberto a submissões com não mais de 150 palavras até dia 30 de Novembro.


Para terminar, referir a Colecção Мир, que será lançada pela Antagonista Editora já no primeiro trimestre de 2010.
Ficaremos todos de olho nesta nova colecção de Ficção Científica e Terror Fantástico.

;)

Monday, October 12, 2009

Dois ou três títulos e um Rebuliço

Nos últimos tempos temos tido uma forte movimentação nas águas do mercado português de literatura fantástica. E, tendo em conta as fortes reticências com que os leitores e editores recebem e publicam ficção curta, é com agrado que vejo diversas antologias e revistas a serem publicadas num tão curto espaço de tempo.

A Saída de Emergência preencheu, em Julho, um espaço do mercado de Ficção Cientifica em português que há muito urgia ser preenchido, publicando Com a Cabeça na Lua, uma antologia que recolhe diversos contos de autores como Heinlein, C. Clarke e Asimov, que escreveram sobre uma, na altura ainda hipotética, viagem à lua, e que traz ao público português dez exemplos da ficção cientifica "hard" da Golden Age. E agora, volvidos três meses sobre esta publicação, a SdE prepara-se para publicar uma colectânea de contos de Arthur Machen, "um dos homens mais importantes do início do século em escrita fantástica e no terror", intitulada, precisamente, de O Terror.
Também graças à Saída de Emergência, pudemos ler, no fim do semestre passado, na Bang! nº 6, diversos contos e artigos da autoria tanto de autores portugueses como de estrangeiros.
Passados uns meses, já depois da dissolução do fanzine Nova [RIP ='( ], Roberto Mendes e Rita Comércio quebraram o monopólio da Bang!, lançando o primeiro número da revista Dagon. Um formato algo diferente daquele a que temos sido habituados, mais próximo do público na medida em que não se limita aos habituais nomes do chamado fandom (atenção, emprego este termo sem qualquer preconceito), e mais abrangente, não se limitando apenas à literatura fantástica, mas estendendo-se às manifestações do Fantástico na música, no cinema e nas artes plásticas.
Mas também a Gailivro, que está igualmente de parabéns pelo trabalho que tem feito no meio, surpreendeu, publicando ficção curta. E mais, ficção curta portuguesa - As Atribulações de Jacques Bonhomme é o título da colectânea da autoria de Telmo Marçal, na minha opinião um dos nomes mais geniais da ficção cientifica lusa. E aqui gostava de fazer um pequeno aparte.

Enquanto Telmo Marçal é um nome desconhecido para a maioria dos fãs portugueses de fantástico, é, para mim, um dos nomes (a par de Luís Filipe Silva e Jorge Candeias, entre outros) que primeiro me vem à cabeça quando se fala de ficção científica portuguesa. Tomei o primeiro contacto com a sua escrita quando li a fantástica antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados, e rendi-me automaticamente. "O Pico de Hubert", para além de ser uma história passada numa distopia caótica, bem imaginada, com um enredo soberbamente orquestrado, é-nos nos dada a ler através da escrita de Telmo Marçal, sem dúvida dotado de uma grande mestria nesta arte.
Mais tarde, dei com alguns contos da sua autoria nos números 2 e 3 do Hyperdrivezine, que podem ser lidos aqui [foi o Ricardo Loureiro (também editor da recém-extinta Nova), um dos melhores editores de revistas que temos por terras lusas, na minha opinião, que o publicou pela primeira vez, ainda no formato website deste Hyperdrivezine], e no nº 5 da Bang!, que apenas fizeram reforçar a minha excelente opinião sobre o autor. Rapidamente se tornou, portanto, um nome a seguir com atenção.
No entanto, nos últimos tempos, nunca mais tinha ouvido falar dele. Foi, então, com alguma surpresa e muito agrado, que me deparei com esta colectânea. Finalmente em papel, depois de passar pelo Hyperdrive, "o Dragão Quântico, o Hyperdrivezine, o sítio Neolivros, a Scarium, o Tecnofantasia, o Phantastes, o Somnium[,] (...) a Nova" e, "até[,] (...) a antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados".
Ainda não li As Atribulações de Jasques Bonhomme, mas estou muitíssimo curioso. Valerá a pena a leitura, sem qualquer dúvida.
[Crítica de Rui Baptista ao livro do Telmo Marçal no Bela Lugosi is Dead.]

Mas voltando ao tema inicial do post, não só antologias, colectâneas e revistas têm dado movimento às águas outrora um tanto estagnadas do Fantástico português. Também inúmeros concursos têm surgido, aqui e ali, para escritores de ficção científica a steampunk, de fantasia a horror, sejam eles já consagrados ou estejam ainda a dar os primeiros passos.
Gostaria de começar por fazer referência à Antologia Vaporpunk, para a qual foi feita a última chamada na semana passada, no Efeitos Secundários. Prazo de submissão a acabar já dia 18.
Por outro lado, mas também no seguimento de um texto publicado por Luís Filipe Silva no seu blog, Roberto Mendes lançou no Correio do Fantástico um desafio que, idealmente, culminará numa antologia em que versarão sobre "a conquista do espaço, a colonização de outros planetas, (...) que tipo de humanos farão a conquista (ou se esta falhará) e, principalmente, utilizando como personagens centrais os portugueses desse tempo: serão portugueses conquistadores ou falhados?". Para ler aqui.
Mas também do outro lado do atlântico surgem projectos interessantes. Informa-me o Márcio: Até 15 de janeiro de 2010, a Andross editora estará selecionando contos para a coletânea Tratado Secreto de Magia, a ser lançada em abril de 2010 na Biblioteca de Literatura Fantástica Viriato Correa, em São Paulo. Nosso objetivo é receber contos relacionados não só com a magia, mas também feitiçaria e bruxaria, desde histórias que remetam à realidade histórica, como a Inquisição, até tramas que sejam ligadas à fantasia, no estilo Harry Potter. Este Tratado Secreto de Magia é apenas uma das antologias que a editora Andross está a organizar de momento. Moedas Para o Barqueiro será uma antologia de contos que terão como temática a Morte, e os textos poderão ser submetidos até 30 de Janeiro de 2010. 2054, como o próprio nome faz antever, será constituída por contos de ficção científica, enquanto que Histórias Liliputianas será uma colectânea de 50 microcontos sem nenhum tema padrão - os prazos para submissão são, respectivamente, 30 de Novembro e 15 de Janeiro. E, agora fugindo um bocadinho ao tema do post porque sei que interessará a alguns leitores do blog, a Andross está também a organizar um antologia de poesia intitulada Ecos da Alma. [Para mais informações e contacto dos organizadores, consultar a página de cada antologia.]
Por fim, apenas uma última referência à Antagonista Editora, que está à procura de autores lusófonos, não só de Portugal, do Brasil e de África, mas também de Goa, Macau e mesmo da Galiza.

Wednesday, October 7, 2009

O Pesadelo Financeiro Americano

O fim da abundância
Pelos padrões americanos, a nossa família está a passar por necessidades financeiras. No rescaldo da crise económica, o meu marido perdeu o emprego e agora ganha menos de metade do que ganhava. Com um filho no jardim-escola e um recém nascido para criar, temos vivido sob grande pressão. Depois de fazermos as contas, decidimos que eu ficaria em casa, sacrificando assim o nosso seguro de saúde. Os miúdos têm Medicaid. Passamos agora sem tantas coisas que antes tomávamos por garantidas. Temos reduzido as despesas sempre que possível. Se o meu marido não tivesse recebido uma assinatura vitalícia da vossa revista quando era criança, não a teríamos. Começámos, com relutância, a aceitar a ajuda governamental para alimentar a nossa família. Faremos o que for preciso para não perdermos a casa. Esta manhã estava absorta em autocomiseração e a queixar-me sobre o estado das nossas finanças. Fui lá acima amamentar o bebé.
Quando me instalei com o meu filho nos braços, olhei para a fotografia das páginas 50-51 e vi um bebé a morrer de fome na Etiópia. Os meus olhos encheram-se de lágrimas de vergonha. Enquanto observava aquele rapazinho escanzelado, não pude deixar de compará-lo com o bebé rechonchudo que tinha ao colo. Aquele menino não é menos acarinhado do que o meu filho. Aposto que, se a mãe dele fosse subitamente atirada para a minha vida, não saberia o que fazer com tanta sorte. Não teria tempo para se queixar. Estaria demasiado ocupada a cozinhar os feijões e o arroz que eu desdenhei, plantando legumes no quintal e alimentando o filho.
brigada por nos lembrarem que o modo de vida americano não é o padrão mundial.

Comentário de Melisande Timblin (Carolina do Norte, EUA)
na National Geographic nº 103

Monday, October 5, 2009

Relativismo Moderado

Pois é, fui convidado pelo Francisco Castelo Branco do Olhar Direito a participar num recém nascido blog de nome Os Relativistas Moderados. Pareceu-me interessante a premissa, por isso aceitei.
Estou curioso para saber que rumo vai tomar o blog. À primeira vista consegue-se identificar ali pessoas com formas de pensar diversas, o que promete tornar as coisas interessantes.

Contribuirei quando puder, que certamente não será com tanta frequência quanto gostaria. Para já, fica aqui o link para a minha primeira (pobre) divagação, se alguém estiver interessado em lê-la.

Sunday, October 4, 2009

[Eleições] Parte 1 - Prognósticos só depois do jogo

Se há coisa engraçada nas noites de eleições é que todos os partidos vencem, aconteça o que acontecer (vá, menos o PSD, neste caso). O PS porque ganhou as eleições, o Bloco porque subiu 50% e duplicou os deputados no Parlamento, o CDS porque passou a terceira força política e a CDU porque ganha sempre.

Na minha opinião, e se é que há alguma coisa a acrescentar depois de já toda a gente ter comentado as legislativas relativamente a vencedores e derrotados, o único e grande vencedor foi o CDS. E com grande mérito. Estão de parabéns por toda a sua campanha, com um excelente marketing político. Com pouco fizeram muito, colocando as perguntas certas e atraindo muita gente. Se concordo com as ideias deles? Não, mas tenho de lhes tirar o meu chapéu.
O PS? Perdeu, porque perdeu a maioria absoluta e porque ganhou as eleições não só mas também graças ao receio de muitos de que a Manuela fosse tomar conta do país.
O BE perdeu também, na minha opinião. Sim, duplicou a sua representação parlamentar e subiu mais de três pontos percentuais, mas não foi a alternativa viável e convincente escolhida pelos portugueses. Há muitos pontos em que concordo com o Bloco e com o Louçã, mas há também propostas e ideias que me parecem algo descabidas ou irrealizáveis, no estado em que estamos. O que é facto é que eles não conseguiram convencer os portugueses (nem sequer os mais jovens - sabemos que mais de 50% dos votos do CDS nos grandes centros urbanos vêm dos eleitores que votam pela primeira vez). Não digo que tenha sido um mau resultado, mas estava à espera de mais.
Quanto aos nossos amigos comunistas do arco da velha, o resultado é um sinal de que os tempos mudam e que as ideias se devem ajustar a essas mudanças. O discurso e as ideias do PCP tornaram-se obsoletos há muito - a URSS já passou à história e já tivemos tempo para concluir que não é, de longe, o modelo ideal. O comunismo é um sistema com que simpatizo, e se a CDU tivesse um discurso e propostas inovadores provavelmente até levaria o meu voto - mas, assim, não.

No geral, nem fiquei descontente com os resultados. Pareceram-me justos.
Dos partidos "médios", temos o CDS a ganhar de forma merecida, o BE com um bom resultado mas um aviso de que precisa de se esforçar ainda mais para a próxima, e a CDU com um sinal de que precisa de uma volta bem grande se não quer ficar esquecida.
O PS ganha e perde ao mesmo tempo, mas ao menos a Manuela não vai para lá. Teremos, então, políticas de continuidade, o que é bom para o país (que com o faz-desfaz do PS-PSD não se vai a lado nenhum). Não concordo com muitas das coisas que o Sócrates fez, mas o que é facto é que precisávamos de alguém com tomates para arriscar, para ao menos tentar fazer avançar o país.

Wednesday, September 30, 2009

De Revistas e Confrarias

Parabéns João, parabéns Márcio.

Aguardo ansiosamente pela distribuição da revista na nossa maravilhosa cidade de Coimbra. :)


Revista Confraria chega a Portugal

Periódico binacional oferece um amplo e irreverente panorama da arte, literatura e reflexão crítica contemporâneas.

Após quatro anos de contribuição para a literatura e crítica de língua portuguesa, com um formato online de prestígio internacional e mais de cinco milhões de acessos, a Revista Confraria converte-se numa edição impressa bimestral, editada simultaneamente no Rio de Janeiro e em Lisboa e com contribuições regulares de autores brasileiros e portugueses.

Após o lançamento no Brasil no passado dia 14 de Setembro, o número inaugural da Confraria chega finalmente a Portugal, numa distribuição que procurará chegar a número crescente de bancas e livrarias.

Para além de dossiês sobre vanguardas internacionais, perfis de autores menos conhecidos e entrevistas, a revista oferece também textos críticos, filosóficos, contos e poesia, sendo cada edição ilustrada por um artista plástico convidado. Adicionalmente, a revista conta com um conjunto de colunistas fixos de importante projecção, entre eles Luiz Costa Lima, Silviano Santiago, Gonçalo M. Tavares, Carlos Felipe Moisés, Clóvis Bulcão e valter hugo mãe.

Neste primeiro número o leitor pode encontrar, entre outras pérolas, material inédito de Arnaldo Antunes, Gonzalo Rojas, Maria do Rosário Pedreira, Octávio Paz, Raimundo Carrero e E.M. de Melo e Castro

Em Portugal, a Revista Confraria é coordenada por João Miguel Henriques (para qualquer contacto editorial ou pedido de encomenda escrever para joao@confrariadovento.com).

O primeiro número encontra-se já à venda nas seguintes livrarias de Lisboa (com a certeza de que muito em breve estará também disponível nas cidades do Porto e Coimbra):

Poesia Incompleta (R. Cecílio de Sousa)

Trama (R. São Filipe Nery)

Letra Livre (Calçada do Combro)

Pó dos Livros (Av. Marquês de Tomar)


(texto de João Miguel Henriques)

Sunday, September 27, 2009

Por um Galego Vivo na Costa da Morte

Falando-se de cultura e língua galega, podem-se apontar duas realidades - uma, a das grandes cidades, em que estas são praticamente inexistentes, devido à asfixia linguistico-cultural castelhana; outra, a do meio rural, em que o Galego é falado pela globalidade das gentes galegas, que mantêm viva a sua cultura.

E para reafirmar essa pujança da cultura galega nos meios rurais (como é o caso de grande parte da Costa da Morte, de difícil acesso) e, também, a teimosia de meia-dúzia de obstinados poetas citadinos, Miro Villar e Modesto Fraga apresentam-nos De Pondal ao Batallón Literario. 120 anos de poesía na Costa da Morte. Afinal, que melhor do que a Costa da Morte para paisagem literária?



Cando podes voar coa poesía

Tuesday, September 15, 2009

[Taizé] A Jerk Bishop and "Auto-Stop!"

Dia 5

Ontem estive na igreja de noite, durante uma hora e meia, a relaxar e a reflectir, por isso suponho que esteja perdoado de não ter ido à oração da manhã e do meio-dia [/ironia] - uma das coisas que me incomoda um pouco aqui em Taizé é ser quase considerado sacrilégio faltar às orações (as pessoas podem querer reflectir noutro sítio que não a Igreja, podem por acaso não poder ir à oração ou simplesmente não querer - e, na minha opinião, não vale a pena ir para lá contrariado). Anyway, estive na Igreja até tarde e acabei por também acordar tarde, cansado e algo estranho (estranho, não mal-humorado - é impossível estar-se mal-humorado em Taizé :D).
A meio da manhã fomos apanhar boleia para Cluny, a povoação mais próxima. É uma pequena e acolhedora vila, com um agradável ar medieval. Vale a pena visitar, sem dúvida. Principalmente se se souber que há lá uma piscina antes de se voltar a Taizé xD
Mas com o Big Washing Up voltou tudo ao normal. Uma pessoa fica como nova, com todas as batalhas épicas e o Paweł, a Magali, a Clare, o Artur, o Eduardo, o Gonçalo, a Catarina, o David, a Asia, o Moses e o Melchior. :)
Entretanto, estava um meeting português a decorrer. Mais por curiosidade do que por outra coisa, fui lá. Foi interessante enquanto estava o Irmão português a falar, sobre a história de Taizé e a sua evolução enquanto comunidade. No entanto, mais minuto menos minuto, começa o Bispo do Porto a falar, por ocasião do Encontro Internacional do Porto a decorrer na Invicta em Fevereiro do próximo ano. Começou por falar nas lamentáveis condições de vida que temos em Portugal, na pobreza que se torna cada vez mais evidente (isto quando Portugal se encontra entre os 50 países mais ricos do mundo) - adoro este tipo de discurso! -.-' Entretanto, salta para o típico discurso católico de "só se salva depois da morte quem tiver feito muitas boas acções e levado uma vida sem pecados", algo perfeitamente compatível com um Deus que perdoa, com um Cristo que, na hora da sua morte, fez de um ladrão seu amigo e prometeu-lhe salvação, por este estar arrependido. Orgulho-me tanto destes bispos coerentes nos seus discursos. -.-'
Todos nós erramos e aprendemos com os nossos erros (com alguns, pelo menos), e não vale a pena preocuparmo-nos ou massacrarmo-nos com os que já cometemos, mas tentar melhorar as nossas acções futuras, preocupando-nos com as nossas noções de bem e mal e não com o que alguém escreveu há dois mil anos atrás.
(Atenção, isto vem como respostas ao discurso do Bispo, mas é uma opinião tão válida como qualquer outra :P)



Day 5

Yesterday night I was in the church for an hour and a half, relaxing and thinking, so I assume I'm forgiven of not going to the morning and afternoon prayers [/ironic]... That's one of the things that bothers me a bit about Taizé - it's almost a sacrilege to miss the organized prayers. But the truth is we might want to go to other places or we might just don't feel like going there, so in my opinion there's no point of going against our will. Anyway, I was in church till late and I woke up late too, tired and feeling strange (strange, not in a bad mood - it's impossible to be in a bad mood while in Taizé :D).
In the morning we went to Cluny, the nearest village, by hitchhike. It's a small and warm village with a pleasant medieval atmosphere. It was definitely worth the visit. Specially when you do know there is a pool there BEFORE you go back to Taizé xD
With the Big Washing Up - with all those epic water battles, and Paweł, Magali, Clare, Artur, Crespo, Gonçalo, David, Asia, Moses and Melchior - everything came back to normal.. :)
In the meantime, there was a portuguese meeting taking place. Curious as I am, I went there. It was interesting while the portuguese Brother was talking about Taizé and its history and evolution as a community. But then the Bishop from Porto started talking about the International Meeting that will take place in Porto in February. He talked about the bad living conditions that we have in Portugal and how poverty is becoming more and more evident (this when Portugal is one of the 5 richest countries in the world!) - I love this kind of speech! -.-' After that, he just adopted the typical catholic speech, saying that "The only ones that attain salvation are those who live a life without sin and do a lot of good deeds", something completely compatible with a forgiving God, and a Christ, that in the cross promised salvation to a confessed burgler just because he regretted what he had done. (not) I'm so proud of these bishops whose speeches go with the Bible. -.-'
We all make mistakes and we all learn from them. There's no point in worrying or agonizing over it. Instead, we should try to improve our actions and act accordingly to our sense of righteousness, no matter what someone said 2000 years ago. If not even God judges us , who do we think we are to do it?
(This comes as a response to the bishop speech and it's only a personal opinion, as valid as any other. :P)

Sunday, September 13, 2009

O Tamanho da Minha Loucura



[Passeio de quinta-feira de manhã. Relaxante.]

xD

Thursday, September 3, 2009

[Taizé] Friends and a joint

[Aaaah, I was wrong. I was thinking and the reflection from Day 1 was written on the real first day, on the evening prayer, and not in the second day, on the morning prayer as I thought (in fact, I almost didn't sleep on the 24 hours trip, so I slept till 10 o'clock on the first day) xD And Day 2 was, in fact, the second day.
Oh, and as the reflection from the third day really sucked, I decided to jump to Day 4. ;)]


Day 4

We are making some good friends here.
We met awesome Polish, French, English, German, Spanish, Italian and even American guys. All of them very interesting, with different beliefs and ways of thinking. That's what makes this place so amazing, we can find any kind of people here.
But today three friends of ours are leaving because they smoke a zoint (I didn't understand exactly what it is made of, but it doesn't matter) and the guys from Taizé thought they were selling haxixe. Well, I spoke to them about it, and they told me they weren't selling. I can't be 100% sure, but I believe them.
Let's make this point clear – I’ve never tried drugs nor I want to (though… never say never). But it's our health, and it's a choice of each one of us. If they wanted to smoke drugs, well, I see no problem with it. It's their brain and lungs and body - nobody has nothing to do with that.
So, I don't agree with them being expelled. But maybe I'm just too liberal.
We'll keep in touch, anyway. :)



[Aaaah, afinal enganei-me. Estive a pensar e na verdade a reflexão do Dia 1 foi mesmo escrita no primeiro dia, na oração da noite, e não no segundo dia, na oração da manhã (quase não dormi na viagem de 24 horas, por isso dormi até às 10 da manhã no primeiro dia xD). E o Dia 2 foi, efectivamente, o segundo dia.
Ah!, e como a reflexão do terceiro dia foi verdadeiramente ranhosa, decidi saltar para o Dia 4. ;)]


Dia 4

Estamos a fazer bons amigos aqui.
Conhecemos fantásticos polacos, francesas, alemães, inglesas, italianos, espanholas e até um americano. Todos eles muito interessantes, com diferentes credos e maneiras de pensar. E é isso que torna este lugar tão fantástico, podemos aqui encontrar todo o tipo de gente.
Mas hoje três amigos nossos vão-se embora porque fumaram um zoint (não percebi exactamente de que é feito, mas também não interessa xD) e o pessoal de Taizé pensou que eles estavam a vender haxixe. Bem, eu falei com eles sobre isso, e eles disseram-me que não o estavam a fazer. Não posso estar 100% seguro, mas eu acredito neles.
Deixem-me esclarecer - nunca esperimentei drogas, nem o quero fazer (anyway... já aprendi a nunca dizer nunca), mas é a nossa saúde e uma escolha só nossa. Se eles querem fumar drogas, bem, não vejo nenhum problema. É o cérebro deles, os pulmões deles, o corpo deles - ninguém tem nada a ver com isso.
Não, não concordo nada com a expulsão. Mas talvez eu seja apenas demasiado liberal.
Manter-nos-emos em contacto, de qualquer forma :)

Wednesday, September 2, 2009

[Taizé] A Pray For My Grandmother

[Sobre o Dia 1, bem, de facto não foi o primeiro dia - na verdade, cheguei no dia anterior por volta do meio-dia -, mas foi o dia em que iniciei o Diário.]


Dia 2

A minha avó pediu-me para rezar por ela e pelo avô enquanto cá estivesse. Não acho que haja sítios mais ou menos apropriados para rezar - em Portugal ou em França, numa Igreja, num quarto ou num jardim, acho que é igual, apenas precisamos de senti-lo -, mas como a Igreja é um lugar tão bom como qualquer outro (e o ambiente é fantástico), aqui rezei.
Então, depois, pensei em rezar por mim. No entanto, rapidamente conclui que não faz sentido para mim pedir algo a Deus. A minha vida depende de mim e só de mim. Poderia pedir sucesso na escola ou em qualquer dos meus projectos, mas isso não depende de Deus, mas do meu esforço e dedicação. Podia pedir a Deus um mundo mais justo, mas se realmente quero um tenho de lutar por ele. Poderia pedir uma vida longa, mas aquilo que tiver que acontecer, acontecerá - se tiver que morrer amanhã, pois morrerei.
Eu prefiro tentar viver cada dia da minha vida como se fosse o último, aproveitar o que tenho em vez de lamentar o que não tenho, lutar por aquilo que acredito, sentir-me feliz. Fazem-se os possíveis, apesar de às vezes ser difícil - cá em Taizé, no entanto, é muito mais fácil. :)



[About Day 1, well, it was not the first day - in fact, I arrived the day before at noon -, but that was the day I started the Diary.]


Day 2

My grandma asked me to pray for her and for my grandpa here. I think that there are no better nor worse places to pray - in Portugal or in France, at a Church, in your bedroom or in a garden, it's all the same, you just have to feel it -, but because the church is a place as good as any other (and its' atmosphere is fantastic), I prayed.
Then, I thought about praying for myself but I soon concluded that it makes no sense to me. My life depends only on me. I could ask for success in school and in my other projects, but that does not depend on God, but on my work and dedication. I could ask God for a fairer world, but if I really want it I must fight for it. I could ask for a longer life, but if I have to die tomorrow, then I will die.
I prefer to try living every day of my life as if it is my last one, rejoicing in what I have instead of regretting what I do not have, fighting for my ideals, being happy. Sometimes it's hard but in Taizé everything is easy. Even washing bathrooms! :)

Tuesday, September 1, 2009

[Taizé] God is Too Big To Fit In One Religion

Dia 1

Estou na Igreja de Taizé. Os sinos tocam, anunciando as 8h15. Pela primeira vez em muitos anos, estou numa Igreja de livre vontade, e a apreciar o momento.
Por diversas vezes se tentou unir as várias religiões num clima de paz, a maior parte das vezes de forma infrutífera. Aqui, no entanto, não há lugar para religiões nem para as suas divergências. Aqui, católicos, ortodoxos e protestantes convivem num clima de total harmonia e comunhão (infelizmente não se vêem muçulmanos, judeus, hindus, budistas ou taoístas) - aliás, não é preciso sequer acreditar-se em Deus para aqui se estar. O que está em causa, na minha opinião, é o nosso bem estar e aperfeiçoamento interior - e se isso passar por Deus, excelente, mas se não passar, muito bem na mesma.
Sim, há uma forte base cristã na comunidade de Taizé - como se pode ver nas orações, que giram todas à volta de Jesus Cristo e d' O Senhor -, mas penso que isso não constitui um ponto contra Taizé nem um empecilho a crentes de outras religiões. Afinal, a mensagem primordial é a mesma, de paz e amor, fale-se de Jesus, Moisés, Siddaharta ou Maomé.



Day 1

I'm at the Church. The bells ring, telling us it's 8h15. For the first time in many years, I'm in a church at my own free will, and enjoying my time.
Many times people tried to gather different religions in an atmosphere of peace, and most of the times they failed. But here there's no room for religious differences. Here, catholics, orthodoxes e protestants live in harmony and communion (unfortunately, I saw no muslims, jews, budists, hindus or taoists) - it's not even essential that you believe in God to stay here. As I see it, we are just talking about our well being and searching for inner growth - and if you need God, excellent, but if you don't, excellent as well.
Yes, there's a strong christian basis in the Taizé community - as can be seen in the prayers which are all about Jesus and The Lord - but I think that that's neither a weakness against Taizé nor an obstacle to other beliefs. After all, the original message is the same, a message of peace and love, whether we talk about Jesus, Moses, Siddharta or Muhammad.

Thursday, August 27, 2009

Mystery, Poetry & Romance

Dubowski shook his head. 'I think you're wrong. They'll find plenty of good, profitable ways to exploit this planet. But even if you were correct, well, it's just too bad. Knowledge is what man is all about. People like you have tried to hold back progress since the beginning of time. But they failed, and you failed. Man needs to know.'
'Maybe,' Sanders said. 'But is that the only thing man needs? I don't think so. I think he also needs mystery, and poetry, and romance. I think he needs a few unanswered questions to make him brood and wonder.'
Dubowski stood up abruptly, and frowned. 'This conversation is as pointless as your philosophy, Sanders. There's no room in my universe for unanswered questions.'
'Then you live in a very drab universe, Doctor.'

in With Morning Comes Mistfall, by George R. R. Martin


I'm with Sanders.

Friday, August 21, 2009

The Final Countdown! (or Taizé, Here We Go!)

Depois de uma fantástica semana na casa do magnífico Zé e da sua incrível irmã Marta, vou para Taizé.
Após uns curtos 6 dias cheios de piscina (yay, nadei mais numa semana do que em dois anos! xD), muitos jogos de Magic (perdi quase todos -.-'), muitas leituras (Martin ftw!), muita guitarra (ando a ver se consigo tocar umas quantas notas seguidas de uma forma mais-ou-menos melodiosa xD) e em que ainda malhei o feijão, vou sair pela terceira vez do nosso grandioso país para visitar uma comunidade peculiar isolada no sul de França.

Talvez faça uma coisa a que eles chamam os três dias de silêncio. Para ver se reflicto um bocadinho, ponho as ideias em ordem, escrevo e leio. Ainda não sei, logo se vê.

So, daqui a uma semana cá estarei (espero xD) para contar a experiência a quem estiver interessado. Até lá, divirtam-se. E metam algum juízo na cabeça e passem a ler algo mais interessante do que o meu blog xD


PS: Vou deixar um post para se auto-publicar aí a meio da semana. Depois dêem uma espreitadela, que é mais uma magnífica citação do Mr. Martin :p



[Parto ansioso para conhecer Taizé, toda aquela gente dos 4 cantos do mundo e aquele espírito fantástico (segundo dizem xP), mas parto também já ansioso por voltar, por voltar a estar por Coimbra com algumas pessoas que já não vejo há umas largas semanas (porque foram para a Irlanda, né? :P]

Wednesday, August 19, 2009

Genial, Mr. Martin

And then there is the second kind of loneliness.
You don't need the Cerberus Star Ring for that kind. You can find it anywhere on Earth. I know. I did. I found it everywhere I went, in everything I did.
It's the loneliness of people trapped within themselves. The loneliness of poeple who have said the wrong thing so often that they don't have the courage to say anything anymore.
The loneliness, not of distance, but of fear.
The loneliness of poeple who sit alone in furnished rooms in crowded cities, because they've got nowhere to go and no one to talk to. The loneliness of guys who go to bars to meet someone, only to discover they don't know how to strike up a conversation, and wouldn't have the courage to do so if they did.
There's no grandeur to that kind of loneliness. No purpose and no poetry. It's the loneliness without meaning. It's sad and squalid and pathetic, and it stinks of self-pity.
Oh yes, it hurts at times to be alone among the stars.
But it hurts a lot more to be alone at a party. A lot more.

in The Second Kind of Loneliness, by George R. R. Martin

Monday, August 10, 2009

In.eis-que[civel

Neste post, falei-vos de uma peça de poesia sonora de Márcio-André, levada até Idanha-a-Velha por ele e mais três fantásticos poetas - os portugueses João Henriques e Bruno Santos e a brasileira Karinna Gulias. Nesse post deixei algumas fotografias, bem como um video sobre a performance na Livraria Trama.
Hoje, quatro meses depois, estão finalmente online os videos da performance na milenar catedral de Idanha-a-Velha, que resistiu a diversas denominações da povoação que remonta aos tempos do Império Romano.

Todo aquele ambiente surreal, bem como a excelente acústica do espaço, contribuiram para que o espectáculo fosse soberbo. Infelizmente, devido à pouca luminosidade de algumas projecções, certas partes do vídeo ficaram com uma imagem muito má. Mas, nesses casos, fica o som. :)

Ah, e pois é, fui eu que filmei! :D


Aqui ficam os seis vídeos:














Para além disso, o Márcio fez um Making Of (que eu ajudei a editar). Está muito engraçado! :) xD




Espero que tenham gostado :)

Wednesday, July 29, 2009

Sobre Críticas e Outros Rebaixamentos

Antes de mais, queria deixar um pedido de desculpas ao Luís pelo pequeno comentário irónico que fiz no seguimento das suas críticas aos excertos que deixei no último post. Não concordo com elas, ou pelo menos com a forma como elas foram feitas, mas isso não me dá o direito de ser idiota. Peço desculpa, mais uma vez.

Quanto à forma como entraste a matar, Luís, estás no teu direito, ainda que eu o ache totalmente contraproducente.
Aliás, pensando melhor as tuas críticas até foram bem positivas. Se o único problema do N.E.M.(esis) é o erro crasso na frase "O relógio apitou, meteu a pistola no coldre e fixou o bastão eléctrico no cinto, vestiu o casaco e saiu", então estamos muito bem. É um erro facilmente corrigível.
E bem, o conto não foi enviado para nenhum concurso nem submetido a nenhuma revista. Não é suposto estar perfeito, não tendo passado por nenhum revisor, nem sequer por uma pessoa "de fora", provavelmente.
Quer dizer, se fosse um erro do tipo do "Hades cá vir"... mas isto? Até parece que tira a credibilidade ao conto. Fala das personagens (talvez tenhas razões para isso), do enredo (que acho bem bom, mas é só a minha opinião), mas picuinhices destas? Oh pá, é importante apontarem-se esses erros, mas não da forma como o fazes. Parece que o conto é uma merda unica e exclusivamente por causa disso.

Já olhando para os comentários do Rogério, vemos que, apontando os erros de forma consistente, consegue ser muito mais motivador. E penso que é isso que o pessoal pessimista do "Fandom" deveria querer, escritores motivados, com vontade de evoluir, de escrever cada vez melhor.
Afinal, com que direito alguém pode reclamar do género moribundo em que o Fantástico se tornou se não dá incentivos a quem pode tornar o género vivo amanhã (bem pelo contrário)? Eu não sei, que nunca li nada teu, Luís, mas aposto que não escreves como escreves hoje desde os quinze anos. ;)
Ah, e outra coisa. Quando eu falo em responder-se às submissões com críticas, não estou a dizer que essa é obrigação do júri/editores. Penso é que é vocês são os primeiros interessados em responder a essas críticas, pois são vocês que estão sempre a reclamar em não haver uma boa produção de fantástico em Portugal. Porra, então façam alguma coisa para que a produção medíocre se possa tornar numa boa produção. Se, em 50 respostas, conseguirem realmente ajudar dois jovens a escrever um pouco melhor, então já terá valido a pena! Para que um futuro melhor se comece a desenhar no horizonte!

Vou tentar postar um excerto por dia. Que me dizem desta ideia?


[Se puderem passar a palavra aos outros nomes da ribalta, tipo Safaa, LFS, Barreiros, ... agradecia :)]


EDIT: Luís, referiste a mailing list de escritores de FC. Teria todo o gosto em participar nela! Como se faz?

Monday, July 27, 2009

Novo Fantástico em Português

É bom saber que as minhas palavras de anteontem não foram em vão. Como houve várias pessoas que mostraram interesse em ler alguns exemplos da tal "boa escrita" de que eu falo, vou deixar aqui alguns excertos e links.
Atenção que eu não digo que todos os títulos que apresentei estão prontos a publicar. Na minha opinião (que vale o que vale) todos são bons - o que não implica que alguns não precisem de uma revisão, ou de uma reformulação de algumas partes -, e alguns são de uma originalidade que deveria fazer inveja a muitos autores que andam para aí. Mas não são perfeitos, até porque a maioria é escrito por pessoas ainda jovens (alguns mesmo por menores de idade, a que não se pode exigir um nível de escrita que se exigirá a alguém que escreve há duas, três décadas).

O texto da Carina R. Portugal, O Acorde das Almas, pode ser lido aqui. Na minha opinião, é um excelente conto, passível de figurar na Bang! ou em outra revista de Fantástico.

Do Mário de Seabra Coelho (também conhecido por estas bandas por Yangsmoth), apontei o texto Lágrimas Divinas, que foi escrito quando ele tinha 15 anos (há três anos, sensivelmente), pois não tenho acompanhado os últimos textos dele (que, acredito, sejam ainda melhores).
Tem algumas partes que não passariam como estão para publicação, mas penso que no geral é um texto que, se não pode ser publicado (que penso que pode), mostra um grande potencial de quem o escreveu.
Aqui fica um excerto (com a devida permissão):
Transportada pelo teimoso vento, a pétala ultrapassou as imponentes muralhas brancas da cidade de Jazlul, descendo e razando um telhado. Voltou a virar de direcção ao aproximar-se de outro edifício, e desceu por um beco escuro. Através de sombras, brados e gemidos, a pétala viajou. Libertou-se das trevas e partiu para o centro da cidade. Esvoaçou através da praça, esquivando-se de membros e rostos exaltados. Penetrou por uma janela e volteou em direcção à única pessoa presente naquele compartimento. Deslizando suavemente, acariciou a face da rapariga com o seu toque cândido, e partiu por outra janela, em direcção ao céu.
A jovem levou os seus dedos à bochecha de pele nivea e franziu o sobrolho. Uma voz rouca chamou por ela: — Alisa, vem!
Ela ergueu-se da cadeira onde estava sentada, alisou o vestido, e partiu em direcção ao chamamento.
— Alisa, ajuda-me aqui com esta panela... Os meus ossos estão cada vez mais fracos. — Pediu o seu pai, cujo rosto barbudo estava contorcido numa careta de dor enquanto levantava uma panela. A filha ajudou-o, e os dois transportaram o objecto para cima da mesa. O homem observou o fumegante conteúdo com ar satisfeito.
— Parece delicioso... — Afirmou Alisa, curvando-se para olhar a sopa.
O seu pai ergueu o olhar para a rapariga, e o seu bigode obstruiu parte do sorriso bondoso. Acariciou-lhe os cabelos cor-de-mel. — És a face esculpida da tua mãe, filha. Que Deus proteja a sua memória.
Tristeza patenteou a sua presença nos olhos verdes da rapariga. Que mesmo assim respondeu ao sorriso com um semelhante.
— Vamos comer, se não arrefece. — O pai foi buscar dois pratos de barro e poisou-os na mesa. Com uma colher de pau, encheu os pratos de sopa espessa. Depois de uma curta prece, começaram a comer em silêncio.
Foram interrompidos minutos depois por duas batidas secas na porta. O pai demonstrou intenção de se levantar, mas foi impedido por um toque gentil da filha, que foi abrir a porta.
Um rosto ligeiramente encoberto por um capuz branco sorriu-lhe. — Boa-noite, jovem. Venho à porta deste gentil lar para pedir guarida da chuva, durante esta fria noite. — Como que para o apoiar, a chuva aumentou de intensidade.
— Entre, entre! — Disse a voz do pai de Alisa, que ouvira o pedido. — Venha partilhar uma refeição quente connosco.
Alisa deixou o homem alto entrar, e os dois caminharam em direcção à mesa. A jovem sentou-se, e o homem fez o mesmo depois de pedir licença.
— Kuro Sellan. — Apresentou-se o pai de Alisa, estendendo uma mão distorcida por reumatismo.
— Nostranus. — Respondeu o visitante, aceitando o cumprimento enquanto puxava o capuz para trás, revelando um rosto de meia-idade e calvo, de limpidos olhos negros e testa alta.
— Então diga-me... É de fora? Tempos negros para um viajante. — Comentou Kuro de maneira conversadora.
— De facto, tempos mais negros do que aparentam, senhor Sellan. — Longos dedos entrelaçaram-se debaixo do queixo. — O Homem enfrentou o Céu, e foi auxiliado pela Mãe Terra. Mas o próximo confronto terá um terceiro participante... O Mal Encarnado, o Senhor das Chamas.
O sobrolho de Kuro ergueu-se.
— Divagações de um louco, meu amigo. — Esclareceu Nostranus. — Céu, Homem e Fogo. Diga-me, Kuro, o que é um homem senão uma tela pintada pelo tempo? — Levou outra colher de sopa à boca e sorriu perante os olhares de incompreensão. — Infelizmente, existem duas influências exteriores. O Mal e o Bem. Os lados opostos... — Enquanto falava, tirou uma moeda do bolso e atirou-a ao ar. — Da mesma moeda... — A moeda caiu, e para surpresa de pai e filha, manteve-se equilibrada pela parte lateral. — Amor e ódio, riso e choro... Os opostos necessitam-se, Kuro. Atraem-se como melgas para o fogo. — Levou as mãos à frente do rosto e esticou os indicadores. Como que por magia, um cubo de gelo apareceu na ponta do indicador esquerdo, e uma chama avivou-se no indicador direito. — Lentamente, aproximar-se-ão... — Quando os dedos se tocaram, o fogo extinguiu-se e o gelo derreteu, escorrendo em água por entre as mãos do homem. — E serão uno. Por fim, libertos do Mal e Bem. Do Céu e do Fogo.
Alisa e Kuro abriram as surpresas bocas.
Nostranus recostou-se na cadeira, e o seu sorriso morreu ao fitar pai e filha. — Os homens são feitos de sonhos e memórias. Lembrem-se disso. — Suspirou. — E aproveitem o tempo que vos resta juntos. — Naquele momento, pareceu envelhecer vinte anos.

Milhões de vozes etéreas rugiam nas margens da longa estrada de pedra calcetada que aguardava diante de Aazaad. Homens e mulheres de variadas raças berravam uma cacofonia de pesadelo. Demónios voavam por cima do jovem, soltando risadas sarcásticas, e anjos abanavam as belas cabeças em desagrado.

No fim da estrada, um trono de ouro, rodeado de imponentes colunas. Sentado no trono, a mais estranha criatura que Aazaad já vira, repousava. O seu eterno olhar poisado em si.
Trémulo e assustado, Aazaad começou a caminhar, olhando em frente e tentando ignorar os milhões de inimigos que o ameaçavam, insultavam, e provocavam, mas que no entanto pareciam ter receio de erguer uma mão contra si.
Cada vez mais próximo... Conseguia sentir o peso da observação da criatura sentada no trono.
Mais alguns passos... e fascinou-se com a visão do que se sentava no trono.
Era uma criatura bizarra, pois parecia estar constantemente a mudar de forma, cor, género e raça. Ou era uma serpente alada, um homem gordo de pele morena, um homem de barbas brancas e aparência bondosa, um sujeito andrógino, divinamente belo. Um homem de seis braços e terceiro olho entre as sobrancelhas. A única coisa que não parecia mudar, era o olhar nobre que vergava Aazaad. Encolhendo-o... Parecendo sondar-lhe a alma.
Encontrava-se agora a metros do trono...
— Bem-vindo, Aazaad. — Cumprimentou a voz que parecia possuir milhões de tons diferentes. Um coro etéreo em permanente concordância.
— Quem és tu? — Conseguiu Aazaad perguntar.
— Alah, Shiva, Quezacotl, Zeus, Jupiter, Deus. Chama-me o que o teu coração desejar. — Replicou o ser divino.
— Deus... — Murmurou o jovem, incrédulo. Os seus joelhos tremeram.
— Sim... A escolha mais comum. — Concordou.
— O que faço aqui?
Os brados das criaturas que os circundavam pareceram aumentar de volume.
— Tu sabes, Aazaad. Sou Deus, criado pelo homem, e se tu assim desejares, por ele destruido. Por ti destruído. — Declarou Deus, ignorando as cada vez mais barulhentas criaturas. — Tens uma escolha diante de ti. Mata-me, e quebra a barreira que separa o Céu e o Inferno da Terra. Ou poupa-me, e deixa o destino do Homem nas minhas duvidosas mãos.
E finalmente, Aazaad compreendeu a indignação dos gritantes seres.
— Não tens o direito!
— Mereces arder nos confins do Inferno!
— Poupa o nosso Pai! Poupa o Todo-Poderoso!
— Tirano! Assassino!
— Inconsciente! Não o faças!
A escolha era sua.
A mente do jovem fervilhava... Deveria matar Deus, causando assim o caos terreno, mas libertando a humanidade, dando-lhe a possibilidade de forjar o próprio destino? Ou poupá-lo? E deixar o destino da Terra entregue a uma Entidade.
— O destino do Homem, para o Homem. — Escolheu Aazaad, desembainhando a sua espada. Deus dispensou um único olhar à arma antes de voltar a encarar o seu futuro assassino.
Aço penetrou num coração imaterial, e silêncio abateu-se sobre aquela extensão monótona.
— Escolheste então... O Apocalipse. O fim... Ou o início? — Referiu Deus, cuja imagem tremia, como tinta diluindo-se em água.
[Texto completo aqui.]

De Carlos Eduardo, acho muito boa a ideia do N.E.M.(esis), e ainda melhor (muito melhor xD) a o Hedonê. Infelizmente este último está longe de estar pronto, por isso vou deixar apenas um excerto do NEM:
O relógio apitou, meteu a pistola no coldre e fixou o bastão eléctrico no cinto, vestiu o casaco e saiu. Lentamente, tentando não dar nas vistas começou-se a dirigir para o enorme edifício predominante em toda a cidade. Daniel parou no parque, à sua frente estava a torre. Falhara nos seus cálculos, o turno ainda não mudara. Para ocupar o tempo sentou-se no parque e fitou o magnífico memorial ao resto do mundo. A cidade onde vivia era o projecto mais arrojado alguma vez feito pelo homem. A inspiração tinha vindo da experiência de 1991 a 1993 em que oito pesquisadores se tinham isolado numa estufa de 17 000m2 tentando descobrir como funcionava o enorme ecossistema que era a Terra. O intitulado Projecto Biosfera 2. Mas desta vez o objectivo era diferente, consistia em criar uma cidade isolada do resto do mundo em que o homem pudesse viver. As obras concluíram-se com sucesso, a engenharia humana testemunhava um enorme triunfo. Uma cidade, altamente confortável, ecológica e prática fora construída sob várias cúpulas interligadas entre si. Era abastecida por robots que trabalhavam em campos de cultivo anexos que formavam um anel á volta da cidade. Quando concluída a cidade era um exemplo para todos, enormes espaços verdes para o conforto dos habitantes, casas espaçosas e belas, instituições com os melhores equipamentos possíveis de imaginar. Uma pequena sucursal da grande empresa mecenas deste projecto, a Natura ExMachina, ficou encarregue de gerir os serviços da cidade. Quando as primeiras famílias se mudaram para a cidade não houve nenhum erro a apontar, em pouco tempo a cidade preencheu as vagas de população que necessitava.
Como estava acordado, a N.E.M., foi passando gradualmente os organismos da metrópole para privados, desde fábricas a órgãos de soberania.
De repente o inesperado aconteceu. As portas da cidade selaram-se. Em poucos minutos a N.E.M. anunciou o acontecido. Houvera um ataque terrorista de nível apocalíptico. Ao mesmo tempo, em todo o mundo, milhares de obuses explodiram libertando para o ar um novo vírus modificado me laboratório extremamente contagioso. Felizmente a cidade estava longe de qualquer foco populacional e a informação viajou mais depressa que o vírus. De ali em diante a cidade teria de subsistir por si própria.
Embora a vida não fosse tão luxuosa como dantes, era bastante agradável. A cidade prosperara, a Natura ExMachina controlava agora apenas parte do sector de investigação científica e os órgãos de comunicação. Foi criada uma nova Internet referente apenas à cidade, já que o resto dos computadores mundiais carecia de utilizadores. O monumento tinha escrito tudo isto sob a forma de um friso que crescia em espiral em direcção ao céu suportado numa maqueta da cidade que por sua vez repousava sobre uma superfície curva que invocava a terra.
Os guardas de substituição aproximavam-se. Um de cada lado da rua. Daniel pôs-se em acção. Surgiu por detrás de uma deles e com um golpe rápido e seco com o bastão eléctrico deitou-o por terra. Retirou-lhe a identificação que dizia que se encontrava ao serviço da N.E.M. e colocou sobre a sua farda. Tudo correu como previsto. À porta cumprimentou os guardas, e ocupou no edifício o local de vigia. Não esperou muito até a torre mergulhar no completo silêncio, cuidadosamente observou o cenário à sua volta. Havia câmaras, detectores de calor som e movimento, o chão estava repleto de detectores de pressão. Se Daniel pisasse fora do seu local do seu posto de vigia sem ter accionado o alarme, este soaria, denunciando a sua traição.
De repente o corredor encheu-se de fumo. O alarme soou, alguém tentara penetrar nas defesas da torre da Natura ExMachina., numa fracção de segundos todos os guardas, incluindo Daniel, tinham colocado os visores termográficos. A confusão inicial depressa se transformou numa demanda organizada pelo homem que ousara entrar furtivamente na torre.
Um grupo de guardas deu o sinal, tinham localizado o invasor. Tinham-no cercado, Daniel sacou do bastão eléctrico e da pistola dando sinal que mataria se fosse necessário. O primeiro guarda atacou de bastão em punho, a arma vibrou rente à cara de Daniel que se tinha desviado de modo a defender o ataque vindo de trás. Os guardas guardaram as armas, como estavam em circulo qualquer tiro seria bastante propício a acertar nos colegas. Daniel varreu com o bastão uma vasta área acertando em alguns colegas seus imobilizando-os devido á carga eléctrica. De todos os lados choviam ataques. Daniel girava sobre si próprio, saltava, dobrava-se, fazendo os possíveis para não ser atingido. Com o bastão estocou um dos guardas e, usando-o como aríete abriu caminho por entre o cerco que lhe tinham feito. Mal se viu fora do círculo de guardas correu a toda a velocidade para a sala de arquivo. Mal soara o alarme os andares foram todos selados, mas Daniel previra isso ao colocar-se no andar dos arquivos.
A toda a velocidade, perseguido de bastante perto pelos colegas de trabalho, percorreu todo o corredor de encontro à porta da sala dos registos audiovisuais. Sacou da pistola e apontou para quem lhe perseguia.
- Para trás… – Arfou. – Não me obriguem a disparar!
Daniel precisava de ganhar tempo para a máquina que ligara ao painel de abertura da porta conseguisse forçar a entrada. Os guardas que o perseguiam puseram-se em posição de disparar.
- Se dispararem levo-vos comigo! – Avisou abrindo o casaco exibindo a carga de explosivos que acabara de activar.
Seguiu-se um momento de tensão. Por breves segundos tudo ficou calmo, apenas o bater do coração se sobrepunha ao silêncio. Os números corriam na máquina ligada ao painel de abertura da porta. Os guardas puxaram o gatilho, as balas voaram, a porta abriu, Daniel saltou para dentro da sala. Quando caiu do lado de dentro agarrou-se à perna, havia sido atingido de raspão, mas a visão que teve de seguida fê-lo esquecer de tudo.
[Texto completo aqui.]

Sobre Ricardo Fernandes, não me vou alongar. Deixo-vos aqui um excerto do primeiro Tomo d' A Guerra do Oriente:
Sentou-se no murete, com as costas contra uma das colunas. Hábitos velhos de guerreiro não desapareciam de um dia para o outro, pensou, um sorriso florescendo-lhe nos lábios. Ouviu passos incertos na pedra ao seu lado. Olhou em direcção da pequena ponte de pedra. O seu corpo ficou hirto. Atravessando a ponte, vinha a sua Rainha. Sobrevivera à batalha, pensou para si mesmo. A mulher trajava toda de branco, um vestido justo da cintura para cima e largo da cintura para baixo. Na testa usava um pequeno fio de ouro com um pingente azulado de tamanho diminuto. Fio de ouro enrolava-se também em torno da sua esbelta cintura. Arkham encaminhou-se para a mulher que servira.
A Imperatriz mantinha os olhos baixos, enquanto o Sol a iluminava. Chegou a Arkham devagar, ainda duvidando e temendo pela sua vida. Quando o olhou, quando fixou aquele par de orbes azuis e cinzentos, soube que não o devia temer em demasia. Afinal de contas, era Arkham Caligula Andalorium, o maior Strategus que alguma vez vivera. Trazia uma manta branca num dos braços, encostada ao peito. Desembrulhou-a e deu o flanco ao guerreiro.
Um pequeno e enrugado bebé dormia no meio da manta branca. Tinha uma compleição aparentemente frágil, mas Arkham sabia reconhecer os sinais. Teria um tronco forte e braços duros e grossos, se treinasse. As pernas seriam provavelmente esguias e fortes, dando-lhe vantagem de velocidade. Quando se aproximou mais, a criança acordou e abriu os olhos. O par de orbes vermelhos-sangue fitou o par de azuis-acinzentados. Arkham sobressaltou-se ligeiramente, sentindo o formigueiro no corpo. A criança. Claro. O filho da Imperatriz e de Eblis Dammar. A mulher estava ali para implorar pela vida da criança, não para se entregar ao amor de Arkham. Uma sensação animalesca agitou-se dentro de si. Algo primário reagiu ao olhar fixo e concentrado da criança. Não seria uma criança normal. Não sendo filho de Eblis Dammar. Olhou a mulher nos olhos e compadeceu-se.
Arkham Caligula Andalorium, Strategus, veterano de várias campanhas, compadecera-se do sentimento que viu nos olhos da mulher. Já não era a mulher que ele amava. Mas respeitava-a ainda. Tivera coragem. Fora até ele, sabendo que poderia morrer. Entregar também o recém-nascido à morte. Sorriu. Um sorriso frágil e inseguro. Mas aproximou-se da Imperatriz. Não. Da Rainha. Seria sempre a sua Rainha.
- Strategus? – Ouviu a mulher dizer solenemente.
- Sim...? – Respondeu, sem saber que mais dizer.
- Tomai conta do meu filho... Do nosso filho. Promete-me que o treinarás na forma Andalorium. Isto, se me aceitares como tua esposa. – Disse, de novo com aquele olhar doce e inocente.
- O nosso...filho? – Perguntou Arkham confuso.
- Tem o mesmo poder que tu nos seus olhos. Só poderia ser um filho teu para ter tamanho poder no seu seio. Arkham. Casai-vos comigo.
O homem sorriu. Era tradição ser o elemento masculino a pedir o casamento naquele território. Sorriu um pouco mais e abraçou-a. Tomou no seu braço a criança e a manta e abraçou a Rainha com o braço e mão livres. Era um meio-abraço. Um meio-abraço virado para o sol que entretanto subira um pouco no ar. Banhados naquela luz amarelada, cheia de vida e calor. Estavam no centro da sala circular.
- Arkham ?! – Ouviu-se a voz surpresa da mulher.
O Strategus não respondeu.
- Co...Como foi que... – Tentou ela articular.
O corpo tombou para trás, as mãos segurando o local onda a lâmina fina da katar que Arkham tinha escondida no braço, sob a manga larga da camisola, tinha penetrado. A mulher tombou de costas com um baque seco e enjoativo. A lâmina entrara directamente no seu coração, pensou a Rainha. Arkham usara o braço com que segurava o seu filho. Matara-a. Matara-a enquanto embalava o seu querido filho nos seus braços de assassino. Não lhe dera ainda um nome, sequer, pensou, lágrimas rolando verticalmente pelas suas faces, caindo-lhe nas orelhas que começavam já a esfriar. Tentou olhar para cima. O corpo começava já a desobedecer. Moveu os olhos para baixo. Arkham mantinha-se onde estava, segurando com um braço a criança no seu manto e deixando o braço direito pendendo ao lado da cintura. A lâmina da katar do braço esquerdo estava brilhante com o sangue da mulher e empapara o tecido da manta da prole Dammar. Arkham fitou-o uma vez mais. E o pequeno rapaz fitou de volta. De novo o azul contra o vermelho dos orbes. Sorriu à criança. Baixou-se e enfiou o dedo indicador na ferida da Imperatriz, fazendo-a gemer de dor. A ponta do dedo estava coberta de sangue. Passou o dedo pela testa do recém-nascido, deixando uma cruz de sangue na carne.
- Eu te baptizo Sethius Caligula Andalorium. Serás o meu herdeiro. Manter-te-ei longe da escória igual aos teus progenitores.
A mulher gorgolejou no solo. Reunia forças, pensou Arkham.
- Strate.. Stra...Ar...kham. – Murmurou de forma desconcertante. O homem desviou os olhos, mas forçou-se a olhar. Os seus olhos mantinham-se azuis, o que chocou a Rainha. Matara sem que o seu íntimo fosse alterado. Aquilo nunca acontecera. Nunca ...
Os olhos da mulher esbugalharam-se de espanto. O Strategus era um guerreiro pleno, um veterano, capaz de controlar o próprio íntimo. Soltou um gemido.
- Até sempre, Ardana Movinter. – Disse Arkham, virando costas à mulher que falecia. Caminhou de encontro à pesada porta. Abriu-a com a mão livre, continuando a embalar o rapaz que mantinha o olhar fixo na cara do guerreiro. Desapareceu por detrás da madeira, enquanto o último estertor da morte agarrava o corpo de Ardana, antiga Rainha das Ilhas, antiga Imperatriz do Continente. Terminara. Agora sim, a guerra da reconquista terminara. Tinham finalmente despertado os Reis do amanhã.

Gostaria de deixar aqui mais uns excertos, mas por enquanto ainda não recebi respostas dos autores.

Fico à espera de comentários.

Sunday, July 26, 2009

Together We Stand, Divided We Fall

No Correio do Fantástico tem-se discutido o estado do Fantástico em Portugal, aprofundando-se a questão e expondo-se vários pontos de vista. Até hoje, fiz questão de me abster, pois a minha maneira de escrever por vezes pode ferir susceptibilidades e não queria descer tão "baixo" como por vezes se desceu ao longo da discussão. No entanto, acho que, sendo um amante do fantástico como sou, não consigo manter-me mais calado perante tanto pessimismo junto.
Eu sou um pessimista nato (e cada vez mais, a cada dia que passa) mas, quando me falam do "estado moribundo" do Fantástico em terras lusas, não consigo permanecer indiferente.

O Fantástico em Portugal está Bem. Sim, Bem com B maiúsculo.
Não há quem escreva bem e com originalidade, dentro do género? Há. Carina R. Portugal, Catarina Albuquerque, Henrique Estrela, Ludovico M. Alves, Carlos Eduardo, Ricardo Fernandes. Uns têm, certamente, mais prática que outros, mas todos têm grande potencial para se tornarem os novos nomes do género, na minha humilde opinião. A Artífice (de Catarina Aluquerque), O Acorde das Almas (de Carina R. Portugal), A Guerra do Oriente (de Ricardo Fernandes), Lágrimas Divinas (de Mário de Seabra Coelho), e N.E.M.(esis) e Hedonê (de Carlos Eduardo). Esta última obra, atrever-me-ia a compará-la a uma qualquer do Neil Gaiman, em termos de originalidade. E não digo isto só por dizer - quem me conhece bem sabe que não evoco o nome do Neil em vão (xD)-, o Hedonê é MESMO bom!
Todas estas são BOAS obras, não-derivativas de Paolini e afins, que se podem encontrar pela net, em diversos foruns. Apenas comecei a conhecer este mundo virtual há pouco mais de três anos e já encontrei todas estas obras excelentes, que acredito que não são nem um centésimo da boa literatura fantástica que anda por aí (já para não falar nas obras que nunca conheceremos por estarem guardadas nas gavetas). E, todas elas, obras desconhecidas do grupo de reconhecidos autores e editores de literatura fantástica (o "Fandom", chamemos-lhes assim, erradamente ou não, mas chamemos-lhes assim [sem qualquer sentido depreciativo]).
Então o que é que falha?

Ora bem, vou reformular - a produção de Fantástico em Portugal está Bem. O que falha, na minha opinião, é a comunicação entre o Fandom e os comuns leitores, que são os escritores de amanhã. Se é necessário registar-se num fórum sobre As Crónicas de Allaryia ou sobre o Eragon para ler bons (ou promissores) autores que, quiçá, poderão ser publicados num futuro próximo e dinamizar o género no nosso país, porque não? Mostrem aos comum escritores que podem ser publicados e, àqueles que ainda não são suficientemente bons para isso, que podem melhorar neste, neste e neste ponto. Afinal, também o João Barreiros, o Luís Filipe Silva, o António de Macedo e o Jorge Candeias escreveram mal, em alguma altura das suas vidas.
Respondam a quem envia submissões para a Bang!, mesmo que os contos sejam uma merda. Mas respondam, sugiram pontos a melhorar, clichés a evitar, etc.
E quando há concursos de Literatura Fantástica (como foi o caso do Prémio BANG!), dignem-se a responder individualmente. Quem despende longas horas do seu tempo a ler uma obra que não tem qualidade suficiente para ganhar o prémio também pode gastar mais uns minutos a enviar um e-mail ao autor, a apontar os erros que fizeram com que a obra NÃO ganhasse o prémio.

E o Roberto falou em criar-se uma Associação ligada à FC. Não digo que não seja boa ideia, mas penso que é prioritário investir na divulgação, publicação e formação de novos autores. Para registar uma associação, para além de imenso tempo, ir-se-ião gastar quase 500€ (assim só do registo), que poderiam ser investidos em coisas mais úteis no imediato (edição da Vollüspa, por exemplo).
É importante criar mais revistas do género, divulgá-las e garantir que têm uma boa visibilidade nas livrarias. É importante fomentar workshops.

Eu estou com o Roberto, cheio de vontade de "levar o género às alturas". Não sei quem está connosco, mas sei que preferia que em vez de serem escritos mais uma centena de textos lamuriantes sobre o estado do Fantástico em terras lusas, todos déssemos as mãos por um futuro melhor para o género!


Peace!



PS: Não estou a escrever isto para atacar ninguém, nem por ter o orgulho ferido por alguma vez me terem ignorado ou recusado alguma coisa, como algumas pessoas do Fandom acusaram o Joel e o Pedro, por exemplo.
Ah, e não referi nomes como Telmo Marçal ou Carla Ribeiro pois, ainda que com pouco destaque, vão sendo conhecidos dentro do género.

Saturday, July 25, 2009

Strange Love


Por vezes, deixamos de ter ideias por que lutar, coisas por que viver. Por vezes, apenas continuamos a respirar porque temos pessoas que nos agarram cá.
Obrigado a todas essas pessoas.


[Título na sequência de mais um excelente concerto Fnac, desta feita dado pelos fantásticos dR.estranhoamor.]

Monday, July 13, 2009

Para e Pelo Mundo

[Este texto, dedico-o à Ana xP]


Imaginem-se no início do século XVII, na Europa. Agricultura, escaramuças (bem sangrentas) entre povos, carne conservada em sal. Mortalidade Infantil, direitos da mulher inexistentes, tráfico de pessoas. Sem Internet, sem acesso a livros, jornais e revistas por parte da pessoa comum.


Agora imaginem que, sem mais nem menos, chegavam umas coisas pelos ares, gigantes como dragões e velozes como os mais rápidos animais exóticos da savana Africana. Dos grandes naves (termo que utilizavam para designar as enormes máquinas voadoras) saíam todo o tipo de estranhas coisas. Aparelhos grandes como armários, de uma brancura imaculada, de onde saía um frio siberiano; um objecto estranho, desdobrável, que nos diziam que servia para pôr a roupa a secar; um fogão, com diversos botões, que se acendiam com instrumentos compridos de metal.
E mais, uns seres algo parecidos connosco, mas mais esbeltos e evoluídos, diziam-nos que tudo o que fazíamos estava errado, que a mulher tinha direitos; que as crianças tinham de permanecer na escola, mesmo depois de entrarem na idade adulta; que todos os dias devíamos ver um pouco de uns idiotas de uns programas que dão numa caixa preta em forma de cubo; que a nossa Igreja estava errada, que os padres eram todos uns adoradores do Diabo.
Resultado? Caos.

Eventualmente, certos povos tornar-se-iam os Favoritos dos Seres Que Chegaram do Céu (chamemos-lhes assim) e subjugariam os outros, suportados por todas as tecnologias trazidas dos Céus por aqueles deuses. As concepções económicas, sociais, políticas, ideológicas e religiosas seriam impostas pelos Seres Que Chegaram do Céu, renegando para a clandestinidade as culturas e línguas locais.
Na prática, todas as civilizações europeias seriam forçadas a um salto temporal de três ou quatro séculos nas consciências e concepções aceites pela generalidade da população. Os escravos deixariam, no tempo em que o diabo esfrega um olho, de existir; as mulheres, de um dia para o outro, passariam a desempenhar funções iguais (o quão iguais é discutível, mas seriam certamente mais iguais do que eram) aos homens; a religião comum no seio de cada povo seria proibida e substituída pela que os Seres Que Chegaram do Céu praticavam; o quotidiano de cada um seria inundado por uma torrente de aparelhos electrónicos fascinantes e totalmente inovadores; os bois seriam substituídos por tractores e gigantescas máquinas. Isto e muito mais.

Foi isto que aconteceu em finais do Século XV e no Século XVI, com a pequena diferença de que não foi a Europa a colonizada, mas sim O Novo Mundo. Portugueses, Espanhóis, Holandeses, Italianos e Ingleses irromperam por culturas seculares nas Américas, na África e na Ásia, e pura e simplesmente impuseram a nossa cultura, a nossa verdade.
Favoreceram certas etnias (os Tutsi, no Rwanda, por exemplo) e tribos (na Nova Zelândia dos Maori, por exemplo), cristianizaram os povos, impuseram-lhes os seus modelos económicos e políticos. Os países colonialistas enriqueceram graças a essas milhentas nações do Novo Mundo e, depois, abandonaram-nos e deixaram-nos ao Deus dará. Um Deus que não era o deles, ainda por cima.

Se nos devemos sentir culpados por tudo isto? Acho sinceramente que não. Tudo isso já aconteceu há décadas e séculos atrás, a maior parte das coisas antes de os nossos bisavós estarem sequer no mundo da hipóteses.
Acho que não nos devemos sentir culpados, mas eu sinto-me. Aliás, senti-me culpado desde pequeno por ter nascido deste lado da linha que separa os países ricos dos países pobres. E foi talvez por isso que, também desde pequeno, me isolei de tudo e de todos. Mas adiante, que isto não interessa para nada xD
Acho que não nos devemos sentir culpados, não, pois o sentimento de culpa não vai tornar mais justo o mundo em que vivemos. Mas, se não temos responsabilidade por aquilo que aconteceu há 400 ou 500 anos, temos, sim, responsabilidade por tudo o que está a acontecer agora. Se 80% dos recursos mundiais são consumidos por apenas 20% da população, e se nós fazemos parte desses 20%, então SIM, acho que temos responsabilidade por isso.

Mas, então, o que fazer?
Não são poucas as associações com fins humanitários em Portugal, não, mas a maior parte delas não está aberta à colaboração de qualquer pessoa (acho eu). E, para dar dinheiro (que não é a forma de ajudar de que eu sou mais apologista, por causa do distanciamento que implica), custa-me, e aposto que custará a muitos de vós, ver 70% das nossas doações utilizadas para fins administrativos (como acontece com uma grande ONG que todos nós conhecemos).
Dar comida e roupas também é bom, mas depois há navios que, estando carregados de tudo e mais alguma coisa, ficam um ano parados, como aconteceu com um em Leixões, até que a comida apodrece. Não que a culpa seja das ONGs, nestes casos (é, sim, dos países-destino), mas deve ser incómodo doar roupa, comida, medicamentos, apenas para os ver num navio, imponente nas suas intenções mas impotente nas suas acções.
Por tudo isso, sempre fiquei um pouco de pé atrás em procurar e participar em qualquer iniciativa. E conclui que preferia o Do It Yourself, ir eu mesmo ao terreno, quando fosse mais velho, tentar contribuir para um mundo mais justo e igualitário. "Sozinho é difícil, mas haveria de conseguir", I thought.

Então, numa tarde de Março, fui a uma sessão de sensibilização dada pelo Professor Fernando Castro na minha escola. Ele falou-nos sobre uma viagem que tinha feito ao Gana e sobre a realidade que lá tinha encontrado. Sobre a sua estadia em Abamkwam, uma pequena aldeia perdida no meio da selva africana, e sobre as péssimas condições de vida da população da povoação - da inexistência de água potável a um sistema de saúde ausente, passando por uma educação garantida pela boa vontade e esforço de apenas duas ou três pessoas.
Por esta altura já tinham sido angariados, por um grupo de Lisboa, 300€ para a reabilitação de uma bomba de água na aldeia e, com um grupo de jovens da Brotero, o Professor estava já a trabalhar na construção de uma escola lá.
Fiquei entusiasmado com a ideia e decidi ir à reunião semanal seguinte. Quando lá cheguei, não vi apenas um grupo que queria construir uma aldeia num "País de 3º mundo", mas sim um grupo de pessoas com vontade de MUDAR O MUNDO.

O grupo nasceu quando o Professor Fernando e um grupo de Área de Projecto (que andava a trabalhar na área da Intervenção Social) se juntaram, unidos por um ideal MAIOR e pela vontade destes últimos de participar num projecto que não acabasse com o final do ano lectivo - um projecto sério e para durar.

A partir daí, foram-se fazendo mais e mais acções de sensibilização e o grupo foi crescendo.

Conseguimos angariar fundos e oferecer bicicletas às crianças de Abamkwam para encurtarem as 3 horas a pé que os separavam da sua escola, fomos à Penitenciária de Coimbra animar os reclusos, fizemos visitas a lares de idosos. Estamos, neste momento, a tomar conta de crianças num bairro socialmente fragilizado. Desenhando um gigantesco 0,7% humano nos campos da ESAB, chamámos a atenção dos media para um problema que remonta à década de 70, quando foi concluído que, com apenas 0,7% do PIB dos países ricos, era possível erradicar do mundo todo o tipo de pobreza - meta que, até 2005, apenas a Noruega, a Suécia, a Dinamarca, a Holanda e o Luxemburgo tinham atingido. (e com isto até fomos capa do Diário de Coimbra, eheh :D) Fomos ainda à Câmara Municipal apresentar a associação, por essa altura já registada oficialmente como PROMUNDO - Associação de Educação, Solidariedade e Cooperação Internacional.

Estamos ainda a organizar um projecto de co-desenvolvimento (um campo em que Portugal ainda está a dar os primeiros passos) com guineenses, no seguimento do qual, na próxima quinta-feira, vamos realizar uma Mesa de Co-Desenvolvimento (quem diria, hein? xD).
E, a cada semana, surgem novos projectos. Por vezes, penso que voamos alto de mais, que pensamos que podemos fazer tudo (é natural, estamos na flor da idade xD), e tenho medo que não consigamos dar conta de tudo. Mas isso já é o meu lado pessimista a falar - esperemos que esteja errado, como esteve até agora ^^


E bem, pode parecer-vos irreal, mas fizemos isto tudo em menos de cinco meses. Cinco meses!, no meio de muitas aulas, testes e exames. Às vezes, nem eu mesmo consigo perceber como. O que interessa é que o fizemos, espero que tudo corra tão bem como (ou melhor, de preferência :P) correu até agora.




PS: Ainda não percebi bem porque escrevi o texto xD Mas acho que até nem ficou mal. E consegui verbalizar as minhas motivações e opiniões. Obrigado a quem insistiu até isto estar acabado xP
Ah, e se estiver desse lado alguém interessado em fazer parte da Promundo, não hesite em dizê-lo :)